quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Entenda o conflito na República Democrática do Congo


O atual conflito na República Democrática do Congo (RDC, chamada de Zaire entre 1971 e 1997) tem raízes em choques étnicos e em interesses comerciais e políticos que já levaram a ex-colônia belga a ser palco do que foi chamado de Primeira Guerra Mundial Africana, entre 1998 e 2003.
Nações vizinhas e até países como Zimbábue e Namíbia, que não fazem fronteira com o Congo, enviaram tropas ao território congolês em apoio às facções em combate.
Arte/Folha Online
Mapa do Congo com países vizinhos
A instabilidade causada pelo grande fluxo de refugiados que entraram no país em 1994, fugindo de um genocídio em Ruanda, ajudou a enfraquecer a ditadura de Mobuto Sese Seko, que estava no poder desde 1965. Ele acabou derrubado em 1997 por uma rebelião liderada por Laurent Kabila, com apoio dos regimes de Ruanda e Uganda.
Mas os dois países logo passaram a desafiar a autoridade de Kabila, que buscou apoio de outros países para manter o poder no país, renomeado por ele de República Democrática do Congo.
Angola, Chade, Sudão, Zimbábue e Namíbia apoiaram o regime de Kinshasa, e Ruanda, Uganda e Burundi --este último de forma não oficial-- respaldaram o rebelde ACD (Agrupamento Congolês para a Democracia). Durante os seis anos de combate, cerca de 3,5 milhões de pessoas morreram de fome, doenças ou em razão da violência.
Tréguas provisórias
Apesar de tréguas provisórias, os combates continuaram. Em janeiro de 2001, o presidente Laurent Kabila foi assassinado por um de seus guarda-costas. Seu filho Joseph, então com 30 anos, assumiu o cargo e, em outubro de 2002, assinou um acordo de paz com as facções rebeldes para criar um governo de unidade nacional.
Após o armistício, a ACD se transformou em um partido político, com atual presença no Parlamento após eleições gerais, e suas milícias foram absorvidas pelo Exército como parte do processo de reconciliação nacional.
Os conflitos étnicos regionais, entretanto, persistiram. O atual conflito tem como protagonistas os mesmos atores locais, as antigas milícias da ACD que se integraram nas Forças Armadas da RDC, mas que só ficaram ao lado do governo até 2004.
Nesse ano, voltaram a pegar em armas contra Kinshasa quando o governo quis substituir Laurent Nkunda e outros comandantes da etnia tutsi congolesa, conhecidos também como banyamulenge, por militares de outras regiões da RDC.
Tutsis
Nkunda lidera cerca de 4.000 soldados, todos banyamulenges, e afirma que luta para evitar que a comunidade seja massacrada pelas tribos rivais e pela milícia hutu interahamwe, acusada de genocídio dos tutsis de 1994 em Ruanda e que fugiu ao leste da RDC quando um regime tutsi assumiu o controle em Kigali, a capital ruandesa.
Kabila, que após liderar um governo de transição foi eleito para a Presidência em 2005, tem como aliadas as milícias locais Mai-Mai, que defendem seus territórios de outros grupos, e também as Forças Democráticas de Libertação de Ruanda (FDLR).
Em meio aos combates cada vez mais freqüentes, a ONU (Organização das Nações Unidas) tenta manter a assistência às milhares de pessoas que vivem em campos de refugiados no país. A organização mantém no Congo a sua maior força de paz, com 17 mil soldados.
A fragilidade do governo, que não consegue manter presença em todo o território do terceiro maior país da África, possibilita o domínio de áreas do país pelos rebeldes --algumas com ricas minas de cobre, ouro, diamante e zinco-- e alimenta o temor de que países vizinhos ambicionem novamente envolver-se de forma direta no conflito.