Saudou-me com o respeito de sempre e de imediato, sem que eu terminasse a minha saudação, fez a seguinte afirmação: Mais velho, eu pensava que o tempo da guerra, da subversão, do apelo à desobediência popular e de todas as outras formas de promoção do ódio, do desrespeito às instituições e ao povo …. tudo isso, mais velho, eu pensava que fazia parte do passado e que agora tínhamos entrado numa era de paz definitiva, concórdia, fraternidade, democracia (onde quem é eleito governa e quem perde continua a apresentar propostas que, mesmo sendo diferentes, podem ser úteis) tal como nos outros países ... afinal não ... ainda há alguns que continuam a procurar formas de criar agitação e trazer mais problemas, só porque querem o poder a qualquer preço”. Não sendo, para mim, uma novidade, quis saber mais: - Dinho, onde queres chegar? O jovem olhou fixamente para mim e perguntou-me: - O mais velho já ouviu dizer que a JURA, a nossa organização juvenil, vai realizar o seu II Congresso? Respondi-lhe que não me havia apercebido de nada, mas que isso não era problema nenhum e que até é bom que os jovens se reúnam para discutir coisas sérias e boas para o presente e o futuro da nossa jovem Nação. Aos jovens compete conduzir o destino do nosso País. O Dinho, acortou-me a palavra : - O problema não é esse. Até aí o mais velho tem razão. O problema é que há dias estive num almoço de confraternização organizado pelo maninho Didi Chiwale e o Dirceu Liberty Chaka, que ainda é o Presidente da Jura, fez um discurso inflamado contra tudo e contra todos os que “integram o sistema”. Porque já conheço a retórica do seu discurso e porque, naquele momento, tinha outras prioridades, não dei muita atenção. Mas ontem deram-me este documento, que é cópia do que o Liberty apresentou no almoço e eu fiquei estupefacto com algumas coisas que li. Mas, como eu posso estar enganado, quero que o mais velho também o leia e me ajude a interpretar algumas coisas que são aí ditas. Foi neste momento que o jovem me entregou um texto em cuja capa está inscrito: JURA – TESES PARA O II CONGRESSO ORDINÁRIO. Comecei a ler e verifiquei que o texto estava “impecavelmente escrito”, como diria o nosso saudoso amigo de outros tempos e outras lides, o Fernando Norberto de Castro, que, como todos sabemos, também foi um fervoroso militante do partido UNITA. Li a introdução e fiquei a saber, embora pouco, mas alguma coisa mais sobre a JURA Juventude Unida e Revolucionária de Angola. Boas palavras Imediatamente a seguir confirmei também que a sua pretensão continua a de “ser a principal organização juvenil angolana, mais íntegra e credível, política e moralmente, para melhor intermediar com os órgãos de Estado afins, a defesa, salvaguarda e promoção dos interesses, expectativas e aspirações da juventude angolana”. Se o texto fosse todo assim, diria que estávamos no rumo certo e que o futuro está garantido. Podia mesmo dizer que os jovens estavam a ficar maduros e tinham, ao contrário da minha geração, sido capazes de interiorizar o valor real da paz e os preceitos mais elementares de suporte à democracia moderna. Vejam como seria bom, em plena harmonia democrática, ver os jovens unidos e a “combater com coragem e abnegação a exclusão, lutar contra a exploração do Homem pelo Homem, erradicar a miséria material e espiritual e contribuir para o triunfo do estado solidário e de justiça social”. O Dinho, estava longe de perceber a viagem mental, o sonho, que eu, mesmo sabendo-me ingénuo, estava a viver naquele momento. Coisas que só a velhice explica e que os jovens teimam em não partilhar. É natural que um grupo de jovens, por muito poucos que sejam, quando juntos, se sintam os maiores e os melhores do mundo. Por isso mesmo, é também natural que os militantes da JURA, mesmo sabendo da dimensão representativa do nosso partido (dez por cento nas eleições legislativas de 2008), se sintam capazes de reverter a situação e “elevar o (seu/nosso) Partido ao exercício do poder executivo do Estado”, já em 2012. Sonhar não é proibido e a democracia tem mostrado que milagres, por vezes, acontecem. Mas eu continuo a pensar que é só sonho natural daqueles que acabados de sair da puberdade se consideram “comandantes do mundo”. Não sei porquê, mas de repente dei comigo a pensar na nossa euforia quando começámos a luta de libertação. Enfim… Imediatamente a seguir, não sei porquê, nem a que propósito, lembrei-me de outra expressão que o nosso maninho Fernando Norberto de Castro gostava de usar, quando fazíamos as nossas análises: “não acredito em bruxas, … mas que as deve haver, … lá isso deve”. Voltei a mim e dei continuidade à leitura de tão importante documento. O nosso Liberty (confirmando o que me disse o Dinho) traça como “desafios político-estratégicos”, dentre outros, “a identificação das oportunidades, ameaças, pontos fortes e fracos” da UNITA e “a definição de planos de acção pro-activos que potenciem oportunidades e forças próprias e maximizem ameaças e fraquezas do adversário (MPLA/Governo)”. A partir daqui comecei a perceber que a JURA para além de estar preocupada com os problemas do Partido, também queria contribuir para “minar” o MPLA e o Executivo. Publicado em o Correio do Patriota |
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domingo, 15 de agosto de 2010
As teses golpistas da Juventude da UNITA
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