sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Imigrantes trazem ritmo kuduro angolano ao Brasil



Há alguns anos, um ritmo de batidas rápidas e forte sotaque lusófono chegou ao Brasil. No Rio e em São Paulo, o kuduro pode ser ouvido em casas noturnas e, em Salvador, o som tem até bloco próprio durante o carnaval.

O kuduro é um ritmo angolano cuja trajetória se assemelha ao funk carioca. Nascido nas periferias da capital Luanda há cerca de dez anos, com base em uma dança que envolve fortes movimentos nos quadris (sim, o nome vem daí), a música é hoje um fenômeno naquele país. É uma espécie de mistura de elementos da música tradicional africana, como afro zouk, com hip hop, techno ou house music.

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Ritmo veio da periferia de Luanda

As letras, cantadas em português angolano, refletem temáticas simples e bem-humoradas em tom de crônica social, centradas na vivência das classes mais pobres que habitam os guetos, ou musseques, das cidades angolanas.

“Os jovens conseguiram impor o kuduro como uma música nacional de Angola”, diz Josue Isaias, adido de imprensa da embaixada angolana no Brasil. Hoje em dia, kuduro atravessou fronteiras e pode ser ouvido em outros países africanos, além de casas noturnas da Europa, em especial na Espanha e em Portugal.

Chegada ao Brasil

No Brasil, o kuduro chegou com os imigrantes, já que o país é um dos principais destinos de angolanos, segundo a embaixada do país em Brasília. Mesmo assim, não se sabe exatamente quantos vivem aqui – a soma varia entre 10 e 15 mil. “Não dá para ter uma ideia precisa porque é uma população muito móvel. Muitos vêm para fazer comércio, ficam um ou dois meses e voltam”, diz Isaias.

Em São Paulo, as sacoleiras angolanas são conhecidas nos bairros centrais. Elas ficam hospedadas em hotéis da região e se especializam nesse tipo de venda. Na maioria das vezes, além de roupas, comercializam também acessórios, sapatos e até cabelos para extensões capilares e perucas.

Entretanto, a maioria da população angolana que se fixou no país está no Rio de Janeiro, na rua do Riachuelo, no centro, e no Complexo da Maré, na zona norte. Ali vivem também muitos imigrantes que vieram durante a guerra civil e formam a maior população de refugiados no país, cerca de 1.700 pessoas. Os estudantes, que vêm ao país com bolsas concedidas pelo governo ou entidades privadas, concentram-se em bairros como Tijuca e Copacabana.

Na noite carioca

Para o estudante e DJ angolano Anderson Machado, tocar kuduro em festas de compatriotas aconteceu de maneira espontânea. Morador do Rio de Janeiro desde 2006, onde estuda recursos humanos, ele diz que conhece “90%” da comunidade angolana na cidade. “Como o kuduro já estava famoso em Angola, foi natural tocá-lo nas pistas aqui. Quando mudei para o Rio, comecei a brincar com outros DJs e um dia me chamaram para tocar numa festa angolana. A música alegrou o pessoal, e o dono da boate acabou me chamando pra ficar”, diz ele, que hoje trabalha na boate Espaço África, no bairro da Lapa.

Além de imigrantes africanos, muitos brasileiros frequentam a festa, segundo Machado, conhecido como DJ Digital. “Eles pedem muito para tocar kuduro, que é um ritmo mais animado, para o final da festa”.

O DJ carioca Ze McGill, que promove a festa Makula, no Rio de Janeiro, de afrobeat e outros ritmos africanos, diz que o kuduro tem se popularizado e hoje é tocado em algumas festas na cidade. “É uma música que tem proximidade com o miami base e o funk pancadão, e traz o discursos do gueto, das camadas menos favorecidas. Não dá pra ficar parado. Sempre que a gente toca, todo mundo dança”.

E na Bahia

De certa forma, a chegada do kuduro é a inversão de uma tendência que durante décadas tem marcado as relações culturais entre os dois países. Os angolanos consomem muitos produtos culturais brasileiros, desde música até novelas. Não é a toa que um dos principais mercados ao ar livre de Angola se chama Roque Santeiro, em homenagem ao personagem da novela brasileira.

Com o kuduro, os brasileiros entram em contato com a realidade dos jovens daquele país, segundo Alvaro di Amaro, o DJ Panafricano, precursor do ritmo em Salvador. “É bom para o pessoal conhecer a realidade deles, que estão ainda saindo da guerra civil. As letras são de crítica relacional, falam da temática da juventude, uma crítica construtiva, de usar camisinha. Têm uma crítica, mas também uma sátira bem apimentada, é sempre muito engraçado”.

Di Amaro costuma animar as festas de rua com um carrinho de sol móvel chamado “kuduro sound system”. Junto com outros músicos, ele fundou a Academia de Kuduro Bahiano Angola, que divulga a dança e organiza festas dedicadas à música dos países que fazem parte do Palops - Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. “É importante divulgar por aqui, por causa da ligação que tem a cultura baiana com a africana. É importante resgatarmos essa origem”, explica.

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Academia Bahiana de Kuduro, fundada em Salvador

Nos últimos anos, grandes nomes do kuduro angolano passaram a visitar com frequência o Brasil. Músicos como o DJ Zenobia e o cantor Yuri Cunha também vieram para cá divulgar o ritmo.

O DJ Dog Murras, um dos maiores nomes do ritmo, passou por Salvador, onde fez parcerias com Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Margareth Menezes, Claudia Leite e Marcio Victor do Psirico. “Desde aquela data começou todo o movimento expansionista desta via de exportação de algum elemento da cultura angolana”, diz ele. “É a porta de entrada deste movimento de corpo e alma, foi o estado mais negro da América Latina, a Bahia”.




Ritmo de batidas rápidas, o kuduro nasceu na periferia da capital Luanda e já se tornou um sucesso em casas noturnas de são Paulo, Rio de Janeiro e Salvador

Veja o vídeo da música Fogo no Musseque, do DJ Dog Murras:

Um comentário:

Anônimo disse...

galera a vila isabel homenageia o pais irmão e convida a todos que apreciem e gostam desse país de forte laços com nós brasileiros a prestigiarem os ensaios em vila isabel para o Carnaval 2012. Estes ensaios acontecem as quartas sabados e domingos.