O eritreu Yonas Samuel chegou ao Brasil no começo deste ano, vindo da África do Sul. Foram anos de fuga entre vários países africanos. Desesperado para encontrar sua esposa e filha que deixou no Zimbábue, ele encontrou a solução em um site especializado na reunião de refugiados.
Para o solicitante de refúgio Euphrem D’Fagbenou, que veio do Benin há um ano, a internet mata as saudades de casa e também é ferramenta de inclusão social no Brasil. “Costumo falar online com meus parentes na África, pelo menos uma vez por semana. Mas também venho aqui encontrar amigos que fiz no Brasil, procurar emprego, ler notícias sobre São Paulo”, afirma o jovem, de 23 anos, que deixou seu país após sofrer perseguição por fazer parte de um grupo sindical.
Os dois casos são exemplos de como hoje a internet faz parte da rotina dos refugiados nos centros urbanos e contribui para a adaptação deles no novo país de acolhida. Em uma cidade como São Paulo há cada vez mais pontos de acesso à internet para atendimento aos refugiados. Dois espaços cada vez mais procurados são as salas de internet livre da Refugees United (RU) e do SESC Carmo, localizadas ambas no centro da cidade onde o acesso é privilegiado graças à grande a circulação de transportes públicos.
D’Fagbenou é frequentador assíduo do ponto de internet da Refugees United (RU), organização internacional que promove a reunião familiar de refugiados no mundo todo pela Rede. “Aqui também fiz muitos amigos, conheci outros refugiados e os brasileiros que são voluntários no espaço. Aqui me sinto em casa”, diz o africano.
No centro da RU, 14 voluntários atendem refugiados e solicitantes duas vezes por semana. Muitos deles possuem histórias pessoais e familiares próximas aos dos refugiados e por isso, se solidarizam com o trabalho. “Minha família é de sobreviventes do Holocausto, minha mãe nasceu na Polônia e aos 11 anos veio para o Brasil. Meus avós se reencontraram em meio à guerra com a ajuda da Cruz Vermelha e eles fugiram para o Brasil como apátridas. Sempre tive um desejo não-realizado de trabalhar com refugiados por isso”, conta a jornalista Karin Fusaro, voluntária da RU desde o começo de 2009.
No site da Refugees United, os refugiados se cadastram de forma anônima e confidencial em um banco de dados, indicando características pessoais (como cicatrizes e apelidos) para que apenas familiares e amigos próximos possam reconhecê-los e reencontrá-los. Samuel é a história de um caso de sucesso no escritório da RU no Brasil. A organização tem sede na Dinamarca e outro ponto nos Estados Unidos.
Fez cadastro na RU, por indicação da ONG parceira Cáritas de São Paulo e uma semana depois recebeu os primeiros contatos de uma mulher refugiada no Reino Unido, que procurava seu marido há anos. Samuel foi reconhecido por sua esposa porque citou a palavra “expresso” em seu perfil. “A família brincava chamando ele assim, porque era sua bebida favorita”, conta a advogada Noemi Maruyama que testemunhou a troca de mensagens entre Samuel e a esposa pela internet. “Foi muito emocionante. Ele disse que nós devolvemos a ele a razão de viver”, acrescentou ela.
Homem de negócios e ativista politico na Eritréia, Samuel vive emigrando de um país para outro em busca de proteção contra perseguição desde 1998. Viveu na Etiópia, no Zimbábue e na África do Sul antes de chegar ao Brasil. Procurava sua família há um ano, sem sucesso. Tentou contactá-las por telefone, cartas, amigos e parentes, mas a resposta estava na internet.
Antes do avanço da internet, os refugiados recorriam a compatriotas que chegavam de seus países de origem para saberem notícias sobre familiares e parentes. Hoje, estas pessoas também leem jornais de seus países e ouvem músicas locais pela tela do computador.
“Até 2001, os serviços de internet eram mais restritos na cidade. Hoje várias estações de metrô e terminais de ônibus contam com pontos de acesso à Rede”, afirma Denise Collus, assistente social do SESC Carmo. Desde 2000, a prefeitura de São Paulo implantou o Programa AcessaSP para promover a inclusão digital e hoje existem 512 pontos de acesso gratuíto espalhados pela cidade.
“Aqui no SESC, cerca de 120 pessoas por semana usam nossos computadores. Cada um pode ficar conectado por até 30 minutos por dia, mas mesmo assim temos filas de espera sempre”, acrescenta Denise. No SESC Carmo há uma sala de internet livre com 16 computadores de tela plana, cadeiras para espera e profissionais que orientam os usuários.
Segundo Denise, a procura dos refugiados pelo serviço também aumentou nos últimos anos. “A internet hoje ajuda a quebrar a solidão de muitos deles. Há cada vez mais casos como o de uma jovem cubana que acompanhava daqui pela Web o crescimento de seu filho, que ficou com familiares em sua terra natal, ou de um refugiado congolês que se comunicou daqui do Brasil pela internet por cinco anos com sua esposa e filhos na África”, explica.
“A procura online de emprego também se tornou comum. Para muitos dos refugiados o email se torna seu principal endereço, porque não se sentem confortáveis em enviar o contato do abrigo em que estão hospedados para possíveis empregadores”, afirma Denise.
A maioria dos refugiados que usa os serviços de internet do SESC tem entre 22 e 35 anos e já havia acessado a Rede em outras ocasiões. “Isso porque, não só a internet está cada vez mais popularizada, mas também o Brasil costuma receber refugiados com alto grau de escolaridade em seus países de origem”, acrescenta Denise.
Fonte: ACNUR
Retirado do site da Refugees United Brasil: http://refunitebrasil.wordpress.com/
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