sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Site cria "agentes virtuais" para caçar imigrantes


Já não bastasse a repressão feita a imigrantes ilegais, surge uma enfadonha leva de anti-imigrantes que se julgam acima do bem e do mal e perdem horas a frente do computador se voluntariando como patrulhador virtual da fronteira entre o Texas e o México.
O polêmico Programa de Monitoramento Virtual da Fronteira do Texas, que já custou US$ 4 milhões, convida civis para visitar o site Blueservo.net e observar transmissões ao vivo de 21 câmeras de vigilância instaladas ao longo da fronteira.
Mais de 130 mil pessoas já se cadastraram no site e assistem às imagens transmitidas. Em um ano o Blueservo.net recebeu mais de 50 milhões de visitas. São pessoas que chegam de seus empregos e param diante do monitor e começam a prestar o trabalho voluntário.
E se engana quem pensa que apenas americanos estão na lista de ‘patrulheiros virtuais’. Há cidadãos da Austrália, México, Colômbia, Israel, Nova Zelândia e Grã-Bretanha. Todos dispostos a ajudar os Estados Unidos a combaterem a imigração ilegal e o tráfico de drogas na fronteira.
Os simpatizantes da idéia vêem o projeto como um passo adiante nos esforços dos Estados Unidos para combater a imigração ilegal, o tráfico de drogas e a violência na fronteira.
Até agora, 21 detenções já foram feitas graças ao programa, que é operado pela Coalizão de Xerifes de Fronteira do Texas (TBSC, na sigla em inglês).
A maioria das prisões foi por tráfico de drogas, levando à apreensão de 2.140 quilos de maconha. Os críticos dizem que isso não representa um bom retorno para o dinheiro gasto. O senador estadual democrata Eliot Shapleigh, da cidade fronteiriça de El Paso, diz que o programa é um desperdício de dinheiro.
Ele argumenta que as câmeras na fronteira “convidarão os extremistas a participar da caçada virtual de imigrantes”.
A medida, que cresceu durante o governo democrata de Barack Obama, lembra a luta do ex-presidente George W. Bush para combater a imigração ilegal e o tráfico de drogas construindo muros em partes da fronteira entre o México e os Estados Unidos.
As câmeras de vigilância estão dirigidas aos trechos que não são protegidos por muros ou por guardas de fronteira.
Visitei o site que exige cadastro e criação de senha para entrar. O Blueservo.net diz aos usuários o que eles devem procurar: grupos apertados em barcos tentando cruzar o Rio Grande, indivíduos carregando mochilas ou pacotes, carros estacionados em áreas isoladas e pessoas rastejando pelo caminho.
Se os ‘patrulheiros virtuais’ observam qualquer coisa suspeita, eles apertam um botão no site e enviam uma mensagem para o xerife da localidade correspondente.
O xerife local decide então se investiga pessoalmente o local ou se repassa a informação para a Patrulha de Fronteira dos Estados Unidos.
O esquema coloca em risco a segurança dos próprios americanos que precisam confiar no sistema de segurança do país.
Até que ponto cidadãos trabalhando como voluntários podem dar conta correta deste serviço? Ou quem são eles para julgarem o direito de ir e vir de outros cidadãos?
Em entrevista a BBC, Jay Stanley, da União Americana para Liberdades Civis, disse que “apesar de ser legítimo proteger a fronteira do país, é preocupante se as câmeras encorajarem o vigilantismo”.
“As pessoas podem pensar que viram imigrantes ilegais e subir em seus caminhões com uma arma (para ir atrás deles)”, diz. Os administradores do site dizem que ele mantém o objetivo principal do projeto, que é combater o crime, não a imigração ilegal.
O governo do Texas deu ao programa US$ 2 milhões em fundos oficiais para financiá-lo em seu primeiro ano e outros US$ 2 milhões para o segundo ano, com a instalação prevista de novas câmeras nos próximos meses.
O ‘patrulheiro virtual’ John Spear, de Nova York, afirmou que realmente se diverte “chegando em casa depois de um dia de trabalho e fazendo o papel de guarda de fronteira”.
“É mais interessante que ver TV”, garante.
Ou seja, ele não sabe o que é viver. E acha que pode impedir quem quer fazê-lo.

Fonte: Rádio Criciuma

Retirado do site da Refugees United Brasil:  http://refunitebrasil.wordpress.com/

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