O refugiado congolês Jonh*, de 15 anos, não pede muito. O jovem diz que tudo o que quer é um colchão e a chance de aprender a falar inglês, embora ele sempre pense nos seus irmãos e nos seus pais que foram mortos ano passado no Congo, na volátil província de North Kivu.
Há muitos desafios para este menor desacompanhado, mas pelo menos ele tem um teto sobre sua cabeça graças a um encontro fortuito com uma simpática colega refugiada da República Democrática do Congo (RDC). Jeanette vem da mesma tribo e mora com sua família de sete pessoas na favela de Soweto, em Nairóbi (capital do Quênia).
Com a ajuda do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), John também pediu refúgio no Quênia. Ele é um dos cerca de 50 mil refugiados registrados e requerentes de asilo em Nairóbi, incluindo 951 menores desacompanhados, que escaparam dos conflitos em North Kivu. Acredita-se que há muito mais que não se registraram junto às autoridades.
“A vida no Quênia é difícil. Não há emprego, nem educação e nem amigos”, suspirou John, que está enfrentando os problemas que milhões de outros refugiados vivem em ambientes urbanos. Mais da metade dos 10,5 milhões de refugiados sob a proteção do ACNUR vive em vilarejos e cidades, sendo cada vez mais predominantemente mulheres, crianças e idosos com necessidades especiais.
A agência da ONU para refugiados tem respondido a esta mudança no perfil do refúgio com a adoção de uma nova política que enfatiza a obrigação do ACNUR e dos países de acolhida em proteger refugiados urbanos e respeitar sua condição. Entretanto, um relatório divulgado recentemente pelo Comitê de Resgate Internacional e o Instituto de Desenvolvimento para o Exterior, um think tank britânico, aborda especificamente os desafios enfrentados pelo ACNUR e seus parceiros na ajuda a refugiados urbanos em Nairóbi.
Em North Kivu, a família de John ganhava a vida como criadores de gado, mas, como ele explicou, “nós tivemos que nos deslocar muito por causa da guerra, e eu só tive a chance de ir à escola durante um ano.” Em junho do ano passado, grupos armados trouxeram o conflito ao seu vilarejo perto da cidade de Betembo e John teve que fugir para salvar sua vida. “Eu tenho duas irmãs mais novas e dois irmãos, mas eu não sei se algum deles está vivo”, disse ele, acrescentando: “Tudo que eu sei com certeza é que meus pais estão mortos”.
Deixado por conta própria, o garoto teve que crescer muito rápido. Temendo que fosse muito perigoso para John permanecer escondido em North Kivu, outro pastor de gado que conhecia sua família o ajudou a cruzar a fronteira ugandense. De lá, ele foi levado para Nairóbi na parte traseira de um caminhão.
Em grandes cidades como Nairóbi, alguns refugiados têm problemas para contatar o ACNUR e receber o apoio que precisam. Porém, John teve sorte. Poucos dias depois de chegar à capital queniana, ele conheceu Jeanette em um mercado do centro. “Quando eu a ouvi falando minha língua, me aproximei dela”, lembrou John. Ela se ofereceu para deixá-lo ficar na sua espartana casa de um quarto que ela dividia com seus sete familiares.
John sabe que teve sorte, mas ele também percebe que as coisas poderiam mudar. “Eu não sei por quanto tempo posso ficar aqui”, disse ele, acrescentando que “há muito pouco espaço e não há dinheiro o suficiente para todos se alimentarem”.
O quarto, onde oito pessoas vivem, comem e dormem é de aproximadamente 10 metros quadrados. Há uma lâmpada pendurada no teto, mas que não funciona porque a conta de luz não foi paga. Há também um colchão de solteiro atrás de uma cortina, um banco pequeno e um fogão a gás de acampamento em um canto. “Eu passo a maior parte dos dias fazendo tudo o que eu posso para ajudar Jeanette, desde buscar água até a cuidar das crianças pequenas”, explicou John.
Embora ele fique deprimido quando pensa em sua situação, John não quer ficar em um acampamento, onde ele poderia se beneficiar de ampla assistência, incluindo acesso à educação, saúde e alimentação. “ Tenho medo que as pessoas que mataram meus pais estejam escondidas nos acampamentos, esperando para me matar também. Pelo menos me sinto mais seguro aqui, em Nairóbi. Não há muitos congoleses aqui”, disse ele. “Desde que eu possa ficar aqui, a vida estará bem”.
Mas John e outros como ele realmente precisam de ajuda, e a nova política do ACNUR para refugiados urbanos tenta resolver esta questão. É mais desafiador para a agência e seus parceiros fornecer serviços e monitorar as necessidades dos refugiados em cidades, comparados àqueles que vivem em acampamentos.
Enquanto isso, John ainda tem sua lista de desejos. “Um colchão para dormir! E eu quero estudar inglês. Comprar um carro simples e, talvez, se tornar motorista. Este é meu sonho”.
Ele não deseja voltar para North Kivu, onde a violência levou mais de um milhão de pessoas a fugir de suas casas nos últimos anos, sendo que muitos ainda procuram abrigo em outras partes da província, incluindo lugares administrados pelo ACNUR.
*Nome fictício para fins de proteção.
Dina Skatvedt Rygg em Nairóbi, Quênia
Fonte: ACNUR
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