sábado, 29 de maio de 2010

O legado muçulmano em São Paulo

Andar pelo centro de São Paulo, nas ruas próximas a rua 25 de Março, é um verdadeiro banho de cultura árabe. Casas com pé direito alto, treliças nas varandas, arcos em formato de ferradura, paredes repletas de azulejos e balcões trabalhados caracterizam a arquitetura das Arábias que compõe a região.
 
A grande quantidade de construções que se encaixam nestes padrões deve-se ao fato de o número de muçulmanos ser bastante expressivo no Brasil, principalmente no estado de São Paulo, local que recebeu o maior número de imigrantes árabes a partir do século XIX.
 
Dos 1,5 milhão de muçulmanos que vivem no país, cerca de 3 mil residem na região do ABC, segundo a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil. São Bernardo do Campo, especificamente, é considerada um importante reduto da cultura árabe, por abrigar mais de 500 famílias muçulmanas e uma das 21 mesquitas do estado.
 
Exatamente por isso a cidade foi escolhida para receber o primeiro Encontro Cultural Árabe-Muçulmano, que acontece do dia 31 de maio a 9 de junho e contará com uma programação gratuita de palestras, exposições, eventos gastronômicos e ações sociais.
 
Logo na abertura do evento as influências dos imigrantes são recuperadas com a exposição “A Presença Árabe-Islâmica no Brasil”, que promove uma viagem às origens árabes nas artes, gastronomia, língua, literatura e na própria arquitetura brasileira.
 
“A exposição é uma forma dos participantes do evento imergirem na realidade muçulmana, conhecer um pouco mais de nossos costumes e reconhecer a importância deles em diversos campos da cultura de São Paulo”, diz o xeque Jihad, presidente do Conselho de Ética da UNI (União Nacional das Entidades Islâmicas), uma das organizadoras do encontro.
 
Outro destaque da exposição é a abordagem da presença de muçulmanos africanos durante a colonização do Brasil. Trazidos da região subsariana da África os escravos muçulmanos se diferenciavam dos demais por não aceitarem a imposição à religião católica. Em 1835, após a Revolta dos Malês, alguns dos líderes foram “devolvidos” ao continente africano graças ao medo dos escravocratas de aumentar a fé dos muçulmanos. 
 
Palestras

Durante o I Encontro Cultural Árabe-Muçulmano, palestras diárias vão discutir a contribuição do mundo árabe para a cultura brasileira e desvendar os mistérios dos costumes que muitas vezes chegam a intrigar os moradores da região.

“A comunidade do ABC é bastante receptiva, entretanto, algumas vezes há preconceito em razão da ignorância. Por não conhecer os verdadeiros valores do islã, muitos têm preconceito e uma ideia equivocada da nossa religião e costumes”, disse o Sheikh Jihad.

Entre os convidados estão o pesquisador Jamil Ibrahim Iskandar, a psicóloga Claude Fahd Hajjar, a cientista social Aline Porcina  e a presidente do departamento feminino da Liga da Juventude Islâmica do Brasil, Magda Aref Abdul Latif. Por meio de palestras, o objetivo é conduzir debates em torno de questões contemporâneas como a influência islâmica no Brasil nos campos da ciência, sociedade, a convivência da mulher árabe-muçulmana na cultura brasileira e até mesmo na história do país.

Em seguida, Yolanda Simone Salomão Mêne ministrará uma palestra sobre a culinária árabe relacionando os sabores, ingredientes e costumes da cultura à história e principalmente a imigração ao Brasil.
 
“Este evento e principalmente as rodas de conversa devem servir não apenas para celebrar o momento de união e difuso da cultura árabe-muçulmana, mas também para instruir aqueles que desconhecem as praticas islâmicas ou que têm curiosidade no assunto. Acredito que desta forma podemos unir ainda mais a comunidade árabe e os brasileiros da região”, completou o xeque.

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