segunda-feira, 19 de julho de 2010

Angolanos no Brasil / Duas Faces de uma Moeda


Realidade diferentes de exilados e bolseiros que encontram conforto em ângulos diferentes,e m terras tupiniquins.  Embora a colonização em si seja considerada uma das principais causas da "diáspora angolana", a guerra que começou antes mesmo da independência oficialmente proclamada no dia 11/11/1975 foi a que mais provocou o êxodo dos angolanos pelo mundo, notadamente para o Brasil.  À época, alguns dos que deixaram Angola e rumaram para o país do continente vizinho eram pessoas com visão futura e projeção intelectual de fazer inveja a qualquer nação deste planeta.  Outros nem tanto, mas tinham a certeza e o argumento que a batalha armada pelo poder seria longa e anteciparam-se fatos. O exílio forçado fez muitos estabelecerem-se no Brasil.  Homens, na sua maioria pais de família, vieram primeiro, observaram as oportunidades e posteriormente trouxeram o restante dos seus parentes.  Outros nem planificaram, famílias inteiras saíram praticamente com a roupa do corpo, embarcaram  em pequenos barcos e aventuraram-se.
"O meu pai ,Ricardo de Oliveira Feltrin, originário da província de Malanje, foi um dos que veio sem nada, apenas com a roupa do corpo.  À época havia deixado o país sem olhar para trás supostamente por traumas que havia testemunhado.Em vida no Brasil nunca quis discutir a fundo o que se passou para emigrar ou mesmo discutir o seu regresso,pois sentia-se magoado", conta a filha também a angolana Elisa Feltrin, 40 anos, mãe de dois filhos.  O Rio de janeiro foi o primeiro ponto de concentração de uma centena de angolanos, onde o senhor Feltrin era parte.   Para metade deles, a falta de adaptação e as oportunidades na nova terra estava em cidades dos estados (províncias) de São Paulo, Minas Gerais e Paraná. 
Era 1972 e enquanto Angola ainda era colônia de Portugal, o Brasil já há muito libertado colhia os frutos da alta dos preços do petróleo e crescia economicamente como nunca. Alguns dos Angolanos que vieram para São Paulo conseguiram emprego nas montadoras de automóveis instaladas  no parque industrial de São Bernado do Campo, cidade onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, possui a sua residência particular.  Outros não tiveram sorte e continuaram como nómadas à procura de sobrevivência."Assim como os emigrantes de outros países Africanos os Angolanos absorveram o jeito Brasileiro e literlmente misturaram-se na sociedade",resume o professor da Universidade de São Paulo (USP),Kabengele Munanga da Republica
Democrática do Congo.Segundo ele,que teve como teste de pesquisa a vida de Africanos emigrados para
o Brasil,é difícil encontrar Africanos da quela época porque estão totalmente adaptados ao modo de vida do
Brasileiro e já não mais se identificam com Angola ou qualquer outro país Africano mesmo que ainda tenham
parentes por aqui"."A grande maioria dos que vieram na década de 70 e 80 não concluíram os seus estudos,
arranjaram trabalhos braçais alguns muito rentáveis,outros nem tanto,e misturaram-se aos milhões de Brasileiros das classes C e D e vivem dignamente".A família da Angolana Lina Tavares Correia,é um exemplo típico da migração desesperada de sucesso.Os seus pais,conta ela,emigraram duas vezes."Saíram de Cabo Verde para Angola e de pois durante a guerra civil,que assolava o interior,vieram num barco com
mais 32 famílias para o Brasil.Atracamos no porto da cidade de Itajai,no estado de Santa Catarina.Todas
famílias estão espalhadas no estado",explica Lina.Segundo ela,ninguém exatamente sabia para onde iriam os
barcos lotados com pessoas e mamtimentos para alguns dias."Só soubemos que viríamos para o Basil quando estávamos em águas Brasileiras.Foi para sorte",lembra a Angolana hoje funcionária de uma Universidade na cidade."De Angola fomos para a África do Sul numa viagem de nove dias.Dela viemos para
o Brasil e gastou-se mais 19 dias",continua a mulher de 40 anos e com um filho.Viagens como as de Lina
Tavares Correia e mais 32 familias viriam a ocorrer num novo ciclo de imigração de Angolanos para o Brasil,de acordo com dados do instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),no primeiros anos da
década de 90,auge do recrudescimento da guerra em Angola.Desta vez centenas de milhares aportavam
silenciosa mente no Brasil por meio dos navios cargueros.Jovens na sua maioria,cansados da guerra queriam
novas oportunidades.Chegavam ao Rio de janeiro e por lá ficavam.Na terra de assilo,o exilado é sempre o
"outro",que ora é desprezado ou infantilizado,ora é odiado como invasor ou concorrente-no mercado de
trabalho,por exemplo.Nessas condições,parece verdadeiro também o inverso da máxima de sastre que afirma que"o inferno são os outros".Não tinham estudos,muito menos profissão.O pouco dinheiro que tinha
sirviu para construir casas de madeira as chamadas favelas carioca,o bastião da pobreza no Rio de janeiro.
Muitas vezes o exilado vive um dilema enquanto se encontra na terra de asilo.Por um lado,ele é considerado
como alguém que abandonou sua pátria,ao invés de lutar por ela.Por outro lado,ele é considerado um herói
por conseguir se adaptar a viver ou sobreviver-em terra estrangeira,num contexto olhei o à sua realidade costumeira.Razão porque a literatura e a história sobre o exílo estão repletas de episódios heróicos,românticos,gloriosos e,até mesmo triunfais sobre a vida dos exilados.Os exilados Angolanos no Rio de janeiro têm vivido essa experiência da maneira mais dramática nas favelas,no contexto da criminalidade que envolve esses lugares que,para eles,são outros 'tristes trópicos'.Enquanto esses jovens exilados empenham os seus esforços para vencer em diversas áreas da vida quotidiana-o que é,de certa forma,uma
maneira de superar a dor mutiladora da separação da terra e culturas de origem-eles devem,convencer e provar a todos que estão a seu redor que não são criminosos,colaboradores de bandidos,traficantes de drogas etc...A situação complica-se mais ainda quando são considerados não apenas como simples criminosos-o que não deixa de ser absurdo mas,principalmente como especialistas que ministram treino de guerrilha urbana aos bandidos dos morros e favelas do Rio de janeiro.Esse mito de "Angolano bandido",
"Angolano-traficante"e"Angolano-instrutor de bandido"torna os Angolanos,aos olhos dos políciais,como pessoas mais perigosos que os bandidos que a polícia carioca costumeiramente enfrenta.No complexo da maré,por exemplo,está atualmente a maior comunidades de Angolanos no Rio de janeiro.Os moram nessa favela todos são alvos dos traficantes.Embora a maioria desses exilados seja formada por pessoas que saíram de um país em guerra à procura da PAZ,não querendo portanto envolver-se em conflitos de qualquer ordem,eles tornam-se quase alvos de todos os bandidos.mas exitem os que querem estar livres desse estigma.Pedro Ivo de Almeida Guimarães,23 anos natural de Luanda,foi para o Brasil com o irmão,Luiz Guimarães de 28 anos,para fazer a vida."Os primeiros meses foram bastante difíceis,mas depois logo nos adaptamos.Como morávamos na favela observamos de tudo e não dava para fingir que a bandidagem estava ao nosso lado",explica.Como não tinha uma profissão comecei a integrar-me no movimento de retirada de jovens da bandidagem"eu não era bandido muito menos instrutor mas queria a oportunidade que era dada aos Brasileiros",detalha.Enxergou um futuro quandocomeçou a jogar na equipe principal de basquetebol de ruas da central única das favelas,a CUFA mesmo com sua pouca altura começou a destacar-se com os seus malabarismos com a bola,coisa que um Norte-Amercano faz com facilidade.
"Ao mesmo tempo em que jogava volei a estudar-ele frequenta duas faculdades,uma de análise de sistema e outra de engenharia.Hoje dou aulas em escola pública e faço Shows de exibiçaõ em várias quadras improvisadas pelo país a fora",conta o Angolano.O seu sonho,assim como o do seu irmão,é concluir os estudos até 2011 e regressar para Angola."Estão a dar muita oportunidade como guerra terminou e o país
resolveu crescer economicamente",resume.Estudantes-nas entrada do século 21 tem acontecido um momento interessante de migração de Angolanos.Certos de que o país entrou no hall das nações cuja PAZ é
o principal fator de estabilidade,muitos estão a sair de Angila para estudar no Brasil e quando chegam encontram Angolanos dispostos a sair da atividade do trabalho braçal,ou da criminalidade,para retomar os estudos e regressar.O crescente número de jovens Angolanos interessados em estudar nas universidades Brasileiras está relacionado com a abertura de vagas que o país o ferece."Angola enfrenta diversos problemas económicos,o que também reflete na estrutura e qualidade do ensino.No Brasil,podemos desenvolver estudos e pesquisas que vão nos auxiliar muito quando regressamos aos nossos países.O intercâmbio de experiências é fundamental para nós "afirma o estudante de engenharia civil,Oswaldo Marques da Silva Neto.Um exemplo desta crescente integração foi o encontro de estudantes Angolanos,que
reuniu cerca de 80 pessoas recentemente na Universidade Federal do Paraná (UFPR).O evento foi realizado
em parceiria com a Universidade de Brasília (UNB).Quarenta universitários Angolanos participaram também
do cursos de extensão "qualidade de vida,saude e politícas de enfrentamento da epidemia mundial do HIV-SIDA".Há cinco anos a morar em Curitiba,Lisângela Flora Pelinganga,está a formar-se em administração pela (UFPR).Ela conta que a sua vinda ao Brasil é fruto da dificuldade que os jovens têm para encontrar uma boa formação universitária no país."Quando deixei Angola,não havia curso na minha área,por exemplo".
Lisângela,que divide um apartamento com outras duas conterrâneas,diz que este tipo de encontro os ajuda a lidar com a distância e a falta que sentem da família.Para melhorar ainda mais a integração e incentivar o regresso ao país o governo faz a sua parte.Criou institutos sociais para ajudar as pessoas sem condições financeiras a estudar em países como o Brasil.A fundação José Eduardo dos Santos,a JMPLA,-organização
juvenil Angolana ligada ao partido no poder-e empresas como a Sonangol são muitas instituições que atuam
fortemente na educação dos jovens Angolanos.Mas também há os que terminam os cursos e não querem regressar."O meu pai trabalhava na pescaria cardoso,em Benguela.Estava cansado,largou tudo e veio para o Brasil.Não durou muito tempo para ir buscar a minha mãe e os oitos filhos,todos nascidos em Benguela,
vieram também",disse Paula Cristina Baptista Lopes,pedagoga e professora do ensino médio no Brasil.
Ela diz ter saudades de Angola e que sempre ensina os filhos,três,que um dia voltará a terra natal.Voltarei,
mas não agora.A saudade pé imensa",conclui.A contrapartida dos bolseiros?deixar a família,os amigos,
o curso superior iniciado na única Universidade pública do país e ir para o Brasil estudar.É um desafio que,segundo as estudantes Evalina Muenho,Margarida dos Santos,Tânia de Sousa,Magda Oliveira e
Yara da Silva,vai valer o sacrificio.Elas são alunas do curso de odontologia da (FURB) e no primeiro dia em sala de aula estranharam um pouco a liberdade dos estudantes:"Em Angola ninguém assiste às aulas com boné na cabeça,nem interrompe o professor,a não ser por uma questão realmente relevante",observa Magda.A atitude dos colegas de classe,porém,garante,não atrapalhou em nada o desempenho do professor,
"que explicou lindamente o conteúdo".Magda,assim como a maioria das colegas que estão a cursar odontologia,estudava medecina em Angola,"optamos pela bolsa,mesmo que não seja para cursar medecina,principalmente pela garantia do emprego no regresso ao nosso país,e a Sonangol é uma das melhores empresas para lá se trabalhar",explica Margarida dos Santos.

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