"A chamada "Tolerância Zero",ao configurar uma amnistia aos crimes económucos praticados ao longo de mais trinta anos de governação,por alguns dos mais altos responsáveis do aparelho de estado,das empresas públicas e da estrutura castrense,está longe de ser consensual.Não sendo adepto de nenhum tipo de perseguição,não advogo,porem,a passividade dos órgãos da justiça perante o desfile de tanta ostentação de riqueza.Não deixo,por isso,de partilhar as inquietações de todos aqueles que acham imorala declaração,pura e simples,de um perdão a todos quantos se serviram do estado para enriquecimento ilícito e enlamearam a imagem de Angola de corrupção.Ou seja,com a"Tolerância Zero",quem se locupletou com os bens do estado merece ser"Amnistiado".Quem soube ser árbitro e jogador ao mesmo tempo merece ser "Galardoado".Quem soube envolver-se na prática de bronqueamento de dinheiro sujo merece ser "Protegido".Quem soube usar o tráfico de influência para promover o enriquecimento dos filhos deve ser "Glorificado".E quem não o fez? na lógica de quem se banqueteou com os dinheiro públicos merece ser "Ultrajado".Ora,se isto não e imoral,digam-me lá então o que é? já o anúncio de uma nova era no combate à corrupção pode ser visto como uma iniciativa que merece,no mínimo,ser encorajada na perspectiva de podermos resgater,neste dominio,a esperança perdida.Uma esperança renascida pela vontade política expressa pelo presidente em moralizar por dentro o comportamento dos servidores públicos.O problema é que tal intenção entronca com algumas reservas.Se olharmos para a plateia,concluiremos dede logo que os ábitros e os jogadores são os mesmos.Ou seja,muda-se o palco mas não os atores.O problema é que os discursos são floreados,mas estão embalados numa música que toda a gente já conhece de cor e salteado.
O problema é que sendo a cantilena velha,a atmosfera não pode se não continuar a estar ensombrada com nuvens de dúvidas e de cepticismo em relação à eficácia do combate à corrupção.O problema é que todos gostariamos de ter a garantia de que,por exemplo,no futuro,semple que venhamos a destepar,mesmo à luz da vela,a cama de um crime de colarinho branco,não lençol onde circula dinheiro indecifrável.O problema é que a teia de cumplicidade é tão grande que,perante eventuais denúncias que possam vir a sacudir a estratosfera do poder,aquelas,à partida,podem estar já condenadas a evaporar-se no espaço e tempo.E os cidadãos,que não são todos,sabem disso...O problema é que,talhados em pedra e hipnotizados como uma urna,ninguém aceitar pôr as mãos no fogo para assegurar que não venhamos a continuar a ser confundidos com uma cortina de criaturas especiais cuja lógica de atuação nos últimos anos,de forma verdadeiramente voraz,assentou na apropriação do aparelho de estado.O problema é que ninguém aceita afiançar que os proprietários do colarinho branco,tingidos por irrestrita e dourada impunidade e com liberdade para eveludar o saque da esquerda para a direita e de cima para baixo,venham a deixar de desfilar fortuna fácil, através de refinados métodos de contas de subtração ao estado... O problema é que o seu engorduramento financeiro,feito no passado de forma descarada,afigurou-se tão violento quanto o crime manchado de sangue.O problema é que as dúvidas quanto à eficácia do combate à corrupção prevalecerão sempre porque as nossas criaturas não são quaisquer criaturas.O problema é que as nossas criaturas são portadoras especiais do vírus de uma delinquência também especial e aparentemente invisível,mas que alojado no aparelho de estado e nas forças armadas,sabe codificar a discriminação mas não consegue branquear a injustiça e a abastança.
*Não é por algumas mãos,oleosas de corrupção,terem deixado de pagar na porcaria,que o cheiro passa a ser diferente...
O problema é que a nossa delinquência,a esse nível,não tem cor,tribo,religião e nem se preocupa com a origem ou ascensão social dos figurantes.O problema é que a nossa delinquência tanto anda indocumentada,
como tão de pressa exibe passa porte diplomático.O problema é que de mãos dadas com o crime,as nossas criaturas,imunes a qualquer tipo de vacina,não estrangulam com as mãos ensanguentadas.Finas e burguesas,
usam luvas... O problema é que,neste cenários,o combate à corrupção pode esbarrar no poder de gente que não tem ressentimento algum em dissolver os seus opositores à sede e à nudez,em calviva.O problema é que essa gente já não se assusta com ameaça alguma porque,sem brandir facas,nem adagas de dois gumes,sabe como continuar a navegar num verdadeiro vai e vem de favores.O problema é que a troca de favores,que se vê a olho nu,institucionalizou-se e,sem excepção,oleou de rajada também a engrenagem de todos os aparelhos partidários,de tal modo que arrisca-se a fazer do clientelismo e do caciquismo dois dos mais poderosos adversários do combate à corrupção.O problema é que ninguém garante que todos não venham a continuar a agir segundo as regras de pacto de silêncio e só uns poucos ousados continuarão a desvalorizar a existência e porquew dependem do mérito a das suas competências.O problema é que ninguém assegura que o crime finaceiro venha a deixar de respirar cada vez mais de boa saúde.O problema é que,quem proclamou o combate à corrupção também sabe,como ninguém,que neste ambiete irrespirável,
vale tudo.O problema é que com a atual mecânica,são poucas as pessoas que acreditam que as nossas criaturas,de forma mais sofisticada,venham a deixar de beneficiar de bens públicos-contratos,licenças,creditos bancarios e subsídios que serão reinvestidos,a título privado,nas suas redes de apoio ou clientelas pessoais.O problema é que os favores,esconsos,continuarão a ser negociados... O problema é que,a fundados no pântano,permitimos que as mãos oleosas de corrupção se estejam a confundir com uma ferida hemorrágica.O problema é que as fronteiras entre o negócio,política e o crime são fictícias.O problema é que,no nosso país,a crença na impunidade fomenta cada vez mais o ímpeto transgressor.O problema é que,sabendo que as leis adormecem,as nossas criaturas,também sabem que,quem os persegue,fingindos ter os braços amputados,continuará a não ter interesse em alcançá-los porque eatão filiados no mesmo clube.O problema é que ninguém nos assegura que gabinetes de administração do estado em promíscua aliança com gabinetes privados,venham a deixar de ser transformados em balções de tenebrosas negociatas.O problema é que,as nossas criaturas,instaladas no centro do poder e atraídas pela força do vazio,fazem parte do mesmo clube de compadrio,concluio,tráfico de interesses e magistério de influência.O problema é que continuará a haver espaço para a corrupção galgar terreno porque a justiça está,ela também,inquinada de corrupção.O problema é que a corrupçaõ lavrará em terreno fértil para continuar a tomar de assalto o aparelho do estado enquanto os agentes da função pública usufruírem de ordenados baixos.O problema é que a corrupção estará sempre em alta enquanto perdurarem os atropelos à lei das incompatibilidades.O problema é que a corrupção continuará a ter espaço para ampla audiência governamental enquanto o táfico de influência não for criminalizado.O problema é que todos sabemos disso e todos convivemos,pacificamente,com isso.O problema é aritmético,pois há razões e exemplos de sobra para pensar que o zero tanto pode servir para somar como tem servido para subtrair.E,não é por algumas mãos,oleosas de corrupção,terem deixado de pegar na porcaria,que o cheiro passa a ser diferente.Novas mãos apressarem-se a substitui-las.O problema é esse....
Opinião do Gustavo Costa Diretor-Adjunto do Novo Jornal.
Fonte: N.J
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