terça-feira, 7 de dezembro de 2010

No Panguila e no Zango:Desalojados da «Favela» ensardinhados

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zango50Já passavam alguns minutos das uma da tarde da última Segunda-feira, 22, um aglumerado de pessoas numa tenda improvisada para se acampar do sol abrasador que seguiu a chuva que os abraçou na noite anterior, procuravam colocar a conversa em dia. Mobílias atiradas, outras partidas, na sua maioria empoeiradas. Assentados como pudessem aguardavam pela sua vez.
As cerca de duas mil famílias que residiam em situação de risco na Favela da Praia do Bispo, na capital do país foram «ensardinhados» nos bairros Panguila e Zango, numa clara animalização daqueles que pedem uma certa dignidade.
A acção de desalojamento iniciada na noite da quinta-feira, 18, tendo, o «camartelo» do Governo Provincial de Luanda, sido protegido por um forte cordão de segurança composto pela Polícia anti terror e brigada canina, tomou de «assalto» a favela naquela noite. Os que estavam em suas casas podiam sair para o Zango ou Panguila e os que encontravam-se fora já não podiam entrar.
Acto contínuo, começou então a fase dos registos das famílias residentes que depois do registo colo-cavam os seus haveres no camião e subiam nos autocarros em direcção ao Panguila. O processo continuou até as treze horas de sexta-feira. Nesse horário, a equipa que trabalhou parte da noite e metade do dia foi substituída por uma outra chefiada pela Administradora Municipal da Ingombota, Suzana de Melo.
Foi ali em que o caldo entornou e nunca mais a fómula perdida foi achada. Suzana de Melo não seguiu o modelo de trabalho que encontrou passando a decidir a com o seu indicador direito quem podia ou não ser registado.
Entretanto, essa sua medida criou um grande alvoroço e revolta no seio dos populares, tendo forçado a interrupção do registo dando origem a demolição das casas sem o competente registo, situação embaraçou o processo com a abertura para a entrada de muitos moradores fantasmas.
A situação foi criada pela Administradora Municipal, que em recurso ao seus métodos retrógrados de gestão permitiu que os moradores não registados fossem para o Panguila e os registados acaba-ram por ficar na berma da estrada à Praia do Bispo.
Segundo ao que o Semanário Angolense conseguiu apurar no local, estas famílias residem no local há mais de uma década, que devido a situação político-militar que assolou o país forçou a vinda de muitos do interior para o litoral. Na sua maioria, os populares são provenientes da província do Huambo, Bié, Uige, Malange e alguns de Benguela. Em Luanda, em busca de segurança e também melhorias de vida, os deslocados foram-se instalando naquela circunscrição que ficou mais tarde conhecida por «Favela» no distrito da Praia do Bispo.
Com a aprovação do projecto da nova marginal de Luanda, e em função da localização geográfica da «Favela», aliada a situação de risco a que estavam exposto, o Governo Provincial de Luanda, achou por bem retira-los do local não só para permitir a execução do projecto baia de Luanda como também afastá-los da situação de risco em que viviam.
Segundo alguns dos sinistrados, em conversa com o Semanário Angolense, nunca se levantou a possibilidade de um realojamento nas condições em que os antigos moradores da «Favela» estão a ser expostos.
No Panguila, os ex-favelistas estão a ser realojados em dois tipos de moradias. Uma delas está construída sobre uma base de chão bruto, preparado com areia e cimento, em estruturas de pré-fabricados com três quartos, uma sala, quarto de banho, cozinha e dispensa. Nestas moradias, quando chove fica inundada, foram realojadas três famílias.
As outras, são casas geminadas com dois quartos cada, construídas a base de blocos de cimento sobre uma base de cerca de 10 centímetros de profundidade. Nestas foram realojadas quatro famílias.
Este método de realojamento está a causar muito desconforto aos antigos moradores da «Favela», onde existem muitas incompatibilidades em termos de hábitos e costumes de cada família. Estas incompatibilidades já deram origem a várias rixas que precisaram da intervenção policial que, do ponto de vista da sua actuação tem pouco ou nada a fazer.
Com as torneiras empoeiradas e o sistema de abastecimento de energia eléctrica de farias, a população está exposta a várias adversidades, o que
poderá dar origem ao surgimento de várias doenças, como diarreias, paludismo e doenças respiratórias, devido a imensa poeira que predomina o local, para além das casas que não possuem portas, janelas e nem sanitas. É um martírio.
Rui Albino
Semanário Angolense

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