domingo, 5 de junho de 2011

Angola, o Bastião da Ditadura

Notícias - Opinião
luaty-agresscEu temo o futuro de Angola!
Eu observo o povo que me viu nascer, o povo que decidiu receber em suas mãos mais um cérebro minguante. Eu cresci a ver um povo robusto em generosidade, um povo vigoroso em amor, um povo que desde cedo me ensinou a ver a mãe do outro como a minha própria mãe, o pai do outro como meu próprio, os irmãos dos outros, os meus próprios irmãos.
Este povo que me mostrou que a vida é o bem mais precioso que cada um de nós tem para desfrutar, o povo que incutiu em mim o dever de cultivar o bem, um povo que me ensinou que à todos quantos o dia lhes sorri, sorria com estes e aos que as lágrimas não escondem intimidade, com eles lagrime. Um povo que não passava todos os seus problemas pelo crivo do dinheiro, um povo que respeitava e se fazia respeitar. Um povo que se alegrava com o que tinha e não se desanimava com o que não podia ter.
Estes foram os valores em que se fundava a Angola que muitos viveram e aquela que me viu nascer. Mas, parcendo estigma ou engodo dos deuses, parecendo a motriz dos tempos, hoje eu temo o futuro para Angola. Hoje eu não me revejo com esta Angola. Hoje me deprimo ver Angola sem a angolanidade que me ensinou a cultivar. Hoje escamotea-me a Angola que me viu nascer.
Angola tornou-se o bastião da ditadura. Por inssurrreição estrangeira? Pela sede do poder? Ou será que esta não é a Angola dos angolanos?
Ao leitor caberá responder. Surpreendente nesta estranha Angola, a ditadura está a se tornar "modus vivendi" onde muitos, banhados de escória ditatorial e tamanha irracionalidade vão galgando um a um no manto social, os excedentes, se assim se pode considerar. Muitas vezes pelo simples facto de as vítimas pensarem de uma forma diferente da "robotizada maneira nacinal, quiçá, territorial" de pensar, preconcebida e elaborada a gosto daqueles que se acham no direito de manter os "statu quo" e estabelecer a única e exclusiva linha ideológica de se entender a realidade circundante e os destinos de Angola.
A actitude que mais me enferma é a frieza com que aqueles que me viram nascer e os que viveram a Angola que me viu nascer, nada fazerem ou melhor, tudo o que fazem e "bancar" uma de espectadores pacíficos e monologadores internos da situação. Com a ditadura, veio a cultura do "Cada um por si, Deus pra todos". É triste ver pessoas que a bel prazer da ditudura, tiranizem, abusem, maltratem e até mesmo matem seus semelhantes a troco de ascenção pessoal no partido, no trabalho, na escola ou em outro campo qualquer. A tirania que o poder político e governativo tem disseminado, está a tornar Angola cada vez mais insesível, cada vez mais desumana, cada vez mais selvagem, cada vez mais desculturada da cultura veradeira angolana e muito longe, longe daquela Angola que me viu nascer.
A Ditadura trouxe a Cultura do Medo, a Cultura do Deixa Andar, a Cultura do Fala o que Queremos Ouvir, a Cultura da Gasosa, a Cultura da Dissimulação, a Cultura da Influencia, a Cultura do Mulatismo e Branquismo, a Cultura dos Burros Sobre a Mula, a Cultura do Chefe, a Cultura do Caixão, a Cultura das Graxas, a Cultura do Silencio, em fim a Cultura da Desangolanização.
É constragedor o relato que passo a seguir, narrado pela vítima (outro relato chocante pode ser lido em: www.centralangola7311.net), o músico de intervenção social, o rapper Brigadeiro Mata Frakuzx:
Relatório de Ocorrência
Hoje (quinta feira, 2) por volta das 16h00, quando me encontrava no quarto da minha residência ensaiando para uma apresentação artística, ouvi tocar a campaínha. Quando me dirijo à sala, apercebo-me de um ruídoso rumor vindo da rua e oiço pancadas estrondosas na minha porta. Observo pela câmara da campaínha o que me parecia ser uma manifestação. Deduzi que fosse uma manifestação de desagrado pelas minhas opiniões que, ultimamente se tornaram um pouco mais mediatizadas do que eram até uns meses atrás. Estariam a ser excessivos, pois lançaram garrafas de vidro, pedras e até um balde de tinta (vazio) para o quintal enquanto iam pontapeando a porta a ver se cedia. Apercebi-me que gritavam “queremos o nosso dinheiro” e foi aí que me dei conta que aquilo não era a simples manifestação do descontentamento de jovens com opiniões contrárias à minha, mas mais uma maquinação para me intimidar e descridibilizar-me perante a opinião pública que, à excepção de alguns jornalistas que escolheram apelidar-me de predicados pouco abonatórios e personalidades ligadas ao governo, me tem sido razoavelmente favorável. A chuva de garrafas continuou e a porta, eventualmente, acabou por ceder, ficando a fechadura partida. Dirigi-me então à porta para ver se conseguia dialogar com algum dos manifestantes para entender o que lhes trazia ali na verdade. Mas os jovens estavam exaltados, tendo um deles avançado, agraciando-me com uma bofatada. Imediatamente um dos jovens manifestantes se colocou entre ele e mim, mostrando que (desta vez) não tinham vindo com intenção de me invadir o domicílio ou de me fazer mal, mas nem com este consegui dialogar, pois, pedindo calma, perguntei o que se passava tendo ele respondido simplesmente “vai só buscar o nosso dinheiro e é tudo”. Que dinheiro, era a pergunta para a qual não me davam resposta.
Entretanto, uma rapariga da rua que atende pelo nome abreviado de Teté, entrou e fechou a porta amarrando-a com o cordão de uma das suas peças de roupa, até que eu pudesse trancá-la. Liguei para o 113 que levou 5 minutos a atender o telefone e, apesar da urgência da situação e da péssima ligação telefónica que me impedia de ouvir claramente o que dizia a minha interlocutora, insistia em fazer-me perguntas sobre a razão de estar a ser agredido. Finalmente decidiu-se por comunicar à 3ª esquadra que, por sua vez, estando a uns escassos 300 m de distância da minha residência, conseguiu meter 15 minutos até chegar ao local, contrariamente ao que alega a RNA/ANGOP quando diz “graças a pronta intervenção da polícia”. Quando esta aqui chegou, os rapazes já teriam debandado e eu já tinha epilogado com a vizinhança que se mostrou preocupada e consternada com a minha sorte. Fui levado para a esquadra onde já me esperava a minha cunhada, prestei declarações e ficaram de me ligar na vaguidão de “um desses dias”.
Para quem não me conhece, não será muito difícil acreditar numa notícia oficial da RNA que me pinta como um desonesto capaz de prometer o que não tem ($) a quem (supostamente) está a defender, num gesto desesperado para aumentar o número de aderentes a uma manifestação, que nem sequer convocou, engrandecendo assim, de forma pouco desportiva, a legitimidade dos seus propósitos. Para essas pessoas esta denúncia de nada servirá, pois não têm mais razão para acreditar em mim do que num grupo de 20 jovens que juntaram forças para reclamar o que (supostamente) lhes teria sido prometido. Será a minha palavra contra a deles. Eis a tal “guerra pela informação da verdade” onde as armas são assimétricas e onde o mais importante é tudo excepto a verdade.
Luanda, 2 de Junho de 2011 - Luaty Beirão
Angola precisa de todos nós para salva-la deste mal. Chega de todo tempo decorrido ao serviço dos que desangolanizam a nação, precisamos de actitudes conscientes. Angola é a nossa terra, nossa mãe!!
Mbanza Hamza, o soldado esquecido.
Angola24horas.com

Nenhum comentário: