domingo, 20 de dezembro de 2009

Refugiados angolanos exibem cultura africana em São Paulo


Grupo africano realiza apresentação de dança em São Paulo. (Foto: C.Montenegro/ © ACNUR)


Enquanto os tambores tocam, os chocalhos aceleram o ritmo e os quadris da dançarina negra requebram. A batida africana se espalha e o público acompanha batendo palmas a apresentação da banda angolana Tribo Bakongo Kingoma, em São Paulo.
O show de dança e música angolana aconteceu no início deste mês como parte do Gabriel Indesign, evento que reuniu atividades e mostras de design, arte, cultura e urbanismo em um dos endereços mais importantes da decoração na América Latina, a Alameda Gabriel Monteiro da Silva, no bairro dos Jardins.
As composições das músicas são de autoria do refugiado angolano Bantu Tabasisa, que fundou e coordena o grupo desde 1994, um ano depois de chegar ao Brasil. “No começo foi difícil conseguir sustentar minha vida aqui, mas aos poucos fomos formando o grupo e hoje fazemos muitos shows pelo Brasil”, conta Tabasisa. A banda tem vídeo na internet e, recentemente, se apresentou na Faculdade Mackienze e em programas de variedades da TV Gazeta.
Tabasisa nasceu em Angola, mas sua família se mudou para a República Democrática do Congo quando ele ainda era bebê, por causa do avanço da violência na região. “Nossa música é da região norte de Angola, na fronteira com o Congo. Também produzimos artesanato e roupas típicas”, afirma o angolano que hoje tem esposa e quatro filhos no Brasil.
Na cultura, Tabasisa encontrou seu sustento no novo país de acolhida e reforçou sua identidade africana. “As pessoas estão cada vez mais deixado as suas raízes de lado, neste mundo moderno. Mas eu sou um conservador, a cultura é parte da história e da identidade de um povo. É nossa herança para as próximas gerações”, acrescentou.
Para a brasileira Sueli Penha, integrande da banda há cinco anos, o trabalho da Tribo Bakongo também busca valorizar a cultura africana para os afrodescendentes no Brasil. “Aqui há muita miscigenação, mas ainda há muito preconceito contra os africanos. Quase nenhum negro procura resgatar suas origens africanas, descobrir de que parte da África sua família veio”, explica.
Sueli tem origem africana, seus bisavós vieram de Angola para o Brasil. É atriz, cantora e dançarina. Com refugiados e imigrantes nigerianos, aprendeu a cantar músicas em iorubá, o idioma africano falado ao sul do Saara e participou de uma peça de teatro sobre a ex-escrava que virou “imperatriz” Xica da Silva. Viajou para a Coréia e o Japão na turnê internacional de apresentações.
Ao final do show, o grupo realizou uma oficina de dança com os participantes. A dançarina Mônica Luana ensinou passos típicos de danças africanas para cerca de 20 crianças que acompanharam os movimentos se divertindo. Alguns eram alunos do colégio particular, mas a maioria era jovens da periferia de São Paulo que apresentaram lutas de capoeira durante o Gabriel Indesign.
Atualmente no Brasil, existem 4.183 refugiados reconhecidos pelo governo, provenientes de 76 países diferentes, segundo dados do CONARE (Comitê Nacional para Refugiados). A maioria deles veio da África e o maior grupo é de Angola, são 1.688 pessoas que fugiram da guerra civil em seu país nos anos 1990 e representam 39% do total de refugiados acolhidos no Brasil.
“Deve-se promover e apoiar atividades culturais, sociais e desportivas, recreativas e comunitárias de refugiados em áreas urbanas, para que possam interagir entre si e com a comunidade local”, destaca Eva Demant, representante interina do ACNUR no Brasil.
O Gabriel Indesign comemorou o “Ano Internacional das Fibras Naturais”, instituído pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), em prol da divulgação do design criativo e da tecnologia inteligente. Com a iniciativa, a Associação Alameda Gabriel inseriu São Paulo entre as 25 principais cidades do design no mundo e destacou o compromisso sociocultural e ambiental com a sociedade. Entre eles, o olhar humanitário para os refugiados no Brasil – protegidos pelo governo brasileiro e apoiados pelo ACNUR – que simbolizam os povos de todas as raças em São Paulo.

Por Carolina Montenegro, em São Paulo, Brasil

Fonte: ACNUR

Notícia enviada por Regina Petrus-NIEM/UFRJ

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