Cientistas comprovam uma antiga teoria:
A de que o exercício altera a química celebral e causa euforia nos atletas. Existe uma sensação de que todos
os corredores já ouviram falar e que muitos deles já experimentaram. Alguns a descrevem como um sentimento de euforia que surge durante ou logo após o esforço físico. Outros falam de um bem-estar
prolongado que aparece após um treino e pode durar o dia inteiro. Quase quatro décadas atrás,quando essa
sensação começou a ser estudada,pesquisadores Americanos a baptizaram de "Runer´s High",expressão que pode ser traduzida como "o barato do corredor". A razão disso sempre foi um mistério. Uma hipótese era de que o responsável pelo barato do corredor fosse a endorfina neurotransmissor produzido pelo cérebro e libertado para a corrente sanguínea em momentos de stress. Em exames feitos após os treinos,
verificou-se que os níveis dessa substância no sangue duplicam. Seria natural imaginar que a endorfina também modificasse o humor do corredor. Contudo,como existe uma barreira física que impede o retorno da substância ao sistema nervoso central, a teoria passou anos sem comprovação. Muitos pesquisadores até
acreditavam que o barato da corrida sofre simplesmente uma ilusão. Sabe-se que agora é real. Um estudo
realizado por uma equipa conjunta da Universidade de Bonna e da Universidade Técnica de Munique comprovou pela primeira vez que a actividade física também provoca o aumento da quantidade de endorfina
dentro do cérebro. Os exames de tomografia foram feitos em dez atletas,antes e depois de realizarem corridas com duas horas de duranção. As imagens revelam que parte das endorfinas produzidas pelo cérebro permanecem ali,agindo no sistema límbico e no lobo préfrontal,áreas responsáveis pelo prazer e pelas emoções. "Ao actual nessas regiões,a endorfina promove uma sensação parecida com a de ouvir uma
música empolgante ou se apaxionar",disse o Médico Alemão Hennig Boecker,coordenador do estudo e ele
próprio um corredor. O próximop passo será tentar repetir o estudo e comprovar a existência de outra
substância,a anandamida. Enquanto a endorfina foi a responsável pelo sentimento de euforia,a anandamida
relaxaria o atleta,produzindo um efeito mais longo,capaz de durar várias horas. "O estudo Alemão confirmou
uma antiga hipótese,mas ainda é preciso estudar outras,que também precisam de comprovação",diz a
especialista em psicobiologia Hanna Karen,que estuda as mudanças do humor em atletas na Universidade
Federal de São Paulo (Brasil). Apesar dos corredores levarem a fama,o barato é comum entre aqueles que
praticam atividades aeróbicas de baixa intensidade por períodos meias horas. Nadadores,triatletas e ciclistas
relatam sensações parecidas. A descoberta de que o cérebro dos corredores e atletas funcionava de maneira diferente do de um sedentário ocorreu de forma quase acidental durante a realização,numa Universidade Americana,de um estudo sobre o impacto da privação do exercício do sono. O primeiro indício de algo inesperado foi a dificuldade encontrada por Frederik Baekeland,o cientista responsável pelo
trabalho,em recrutar voluntários. A ideia inicial era pedir a pessoas que se exercitavam de cinco a seis vezes
por semana que ficassem de molho por um mês. Mesmo oferecendo dinheiro,foi impossível completar o número mínimo de cobaias exigido pelo rigor científico. Baekeland,então afrouxou a exigência e convocou pessoas que corriam de três a quantro vezes por semana. Privados das corridas por um mês,os voluntários
relataram ansiedade,problemas sexuais e interrupções no sono. O quadro encontrado descrevia um síndrome de abstinência,semelhante à experimentada por viciados em drogas. O assunto,a partir desse
momento,passou a preocupar muitos médicos. No outros trabalhos,atletas diziam que deixavam de comparecer a eventos familiares e outros compromissos para irem aos treinos. Uma pesquisa de 1972 mostrou que 72% dos atletas afirmavam sentir-se tensos,irritados ou deprimidos quando havia interrupção
dos treinos. "O barato do desporto é um efeito muito positivo e agradável,que estimula a sua prática",diz
Hanna Karen. "O único problema é saber dosá-lo para não se tornar um dependente".
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