domingo, 15 de agosto de 2010

O dinheiro de Angola

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26-Jul-2010
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O fluxo de capitais angolanos para Portugal, nos últimos anos, é o reflexo da instabilidade no país africano que aconselha um poiso mais seguro.
A visita presidencial a Angola incluiu uma das maiores comitivas de empresários de sempre. É fácil compreender porque é que um país relativamente rico como Portugal se sente atraído por investimentos num país relativamente pobre como Angola. Num país pobre, ainda há muito por fazer. Actividades económicas, que já há muito estão sujeitas a feroz competição e margens mínimas nos países ricos, são ainda muito rentáveis num país pobre. Enquanto num país desenvolvido é preciso inovar para satisfazer novos desejos dos consumidores, em Angola basta copiar produtos e ideias do exterior.
Olhando para os dados, as taxas médias de retorno dos investimentos são altas nos países pobres. Para além disso, países como Angola ou o Brasil têm crescido depressa nos últimos anos proporcionando elevados retornos no capital investido.
No entanto, nos últimos 50 anos tem sido pouco o capital dos países ricos investido nos países pobres, dificultando a sua saída da pobreza. Apesar do fluxo de capitais portugueses para Angola nos últimos anos, houve na mesma altura um fluxo de investimentos angolanos para Portugal. As posições accionistas de Isabel dos Santos na Zon e no BPI são talvez o exemplo mais famoso. A nível mundial, na última década emergiu um fenómeno extraordinário: apesar do crescimento rápido dos países pobres, liderados pela China e pela Índia, é maior o fluxo de capitais dos países pobres para os ricos do que vice-versa.
Não compreendemos muito bem este fenómeno, embora não faltem teorias e sugestões. Uma perspectiva que nos últimos tempos tem ganho popularidade argumenta que os países ricos produzem hoje algo que é muito desejável para os países pobres em rápido crescimento: investimentos seguros. Um angolano que acumulou riqueza nos últimos anos anseia pôr de lado uma parte desta riqueza num activo seguro para o caso de os investimentos na economia angolana correrem mal. No entanto, não só é difícil encontrar uma instituição financeira angolana, como o historial de desrespeito pela propriedade privada no país e o risco de instabilidade política, aconselham a pôr essas poupanças fora de Angola. Nesse contexto, países como Portugal oferecem instituições sólidas e um mercado de capitais relativamente líquido onde o investidor angolano pode depositar o seu dinheiro de uma forma mais segura.
Há poucos meses, foi resolvido o caso em que o Estado angolano se queixava de ter sido enganado numa compra de acções do Banif. O arquivamento deste processo poderá ter sido tão importante como a prospecção de negócios que os empresários portugueses fizeram em Angola esta semana. Para além de potenciais negócios, Angola tem outro recurso que o nosso endividado país precisa com urgência: poupanças à procura de um pouso seguro.
                
Ricardo Reis
Publicado no Correio Patriota

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