segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Uma mão cheia de nada

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No dia 29 de Abril deste ano, era apresentado em Luanda, com pompa e circunstância um plano de emergência para pagamento das dívidas do governo angolano às empresas nacionais e estrangeiras. A apresentação foi feita por Carlos Feijó, ministro de Estado e Chefe da Casa Civil da Presidência, ladeado por outros dois ministros de Estado, Hélder Vieira Dias Kopelipa, Chefe da Casa Militar e Manuel Numes Júnior, Coordenador da Área Económica. Nada mais, nada menos que os três “super-ministros” com quem o Presidente Angolano reúne regularmente e que depois reúnem com os restantes ministros (“atipicidades” do novo modelo governativo angolano).
Em tão importante plano, o governo angolano dividiu em três escalões as dívidas que tem para pagar. No primeiro escalão, dívidas até 10 milhões de dólares, seriam pagas imediatamente na totalidade; o segundo escalão para as dívidas entre 10 e 20 milhões de dólares seriam pagas em dois meses; o terceiro escalão para as dívidas de mais de 20 milhões de dólares, seriam pagas a 50% e o restante num formato a decidir, e as dividas de mais de 30 milhões de dólares teriam um pagamento imediato de 30% e o resto escalonado de acordo com as empresas.
No discurso de boas vindas ao Presidente português, Cavaco Silva, o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, anunciou com pompa e circunstância o mesmo plano, apresentado como se fosse uma novidade, um presente de boa vontade para com os portugueses.
A verdade é que o plano anunciado 4 meses atrás, não teve qualquer sequência e as dívidas continuaram e continuam a aumentar. O novo, velho plano agora anunciado, visou oferecer, a jornalistas de memória curta e barriga cheia, um apontamento de abertura dos noticiários.
Não parece que Angola tenha capacidade a curto ou médio prazo para pagar as suas dívidas. O petróleo, fonte quase única do orçamento angolano, continua a variar entre os 70 e os 80 dólares por barril e esse preço parece não chegar para todos os compromissos e toda a corrupção com que Angola se debate.
Em Janeiro deste ano, quando começou a constar no mercado que as dívidas do governo angolano para com empresas rondariam os 2,5 mil milhões de dólares, o jornal oficial do Estado – o Jornal de Angola, veio a público repudiar tais boatos, afirmando que as dívidas não ultrapassariam os 500 milhões de dólares.
Passados 4 meses, em 29 de Abril o governo angolano assumia que a dívida seria não de 2,5 mil milhões de dólares mas sim de 3 mil milhões de dólares, e por isso o tal plano de emergência.
Esta semana o mesmo Jornal de Angola afirmava (antes do presente oferecido por José Eduardo dos Santos a Cavaco Silva) que afinal as dívidas do governo angolano às empresas nacionais e estrangeiras rondariam os 9 mil milhões de dólares.
Em três meses a dívida triplicou. Mas deixemos este assustador aumento para uma análise posterior.
Por ora, fiquemo-nos pela mão cheia de nada que o Presidente Cavaco Silva obteve de José Eduardo dos Santos.
                      
João Marques
 Publicado no jornal Correio do Patriota

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