segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

As mudanças, as revoluções e a sede pelo poder.

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manifestacao 487Confesso não ter sido fácil escolher o título deste artigo, mas fica desde já a ideia central: não é minha intenção fazer análise de qualquer situação política, pois, pretendo fazer um comentário sucinto sobre aquilo que começou na Tunísia e que parece estar na moda no mundo árabe de África e que, para muitos de nós, parece ser o princípio de uma revolução a não desperdiçar.
Em qualquer sociedade, quando o poder e o Povo são adversários, a única solução é sem dúvidas a mudança. Dito assim, parece que sou o dono da verdade. Não sou, não! É apenas um comentário, motivado pelos acontecimentos actuais. Chegam-nos notícias que relatam revoltas, subversões ou manifestações populares que estão a acontecer no Norte de África e, agora, também no Iémen. Tunísia foi o primeiro país e o Presidente não resistiu, tendo abdicado do poder e exilado na Arábia Saudita. Seguiu-se o Egipto e, segundo as notícias mais recentes, no Iémen não se perdeu a oportunidade e o Povo está nas ruas. Existem ainda rumores que relatam acontecimentos semelhantes no Sudão e Somália.
Se na Tunísia a imagem é de um Povo contra o Governo, no Egipto as coisas mudam de figurino. No Egipto, para além do Governo, vemos o Povo contra o próprio Povo. Esta situação está patente, quer nas imagens que nos chegam por via satélite quer pelos relatos dos media, instalados no terreno. Isto mostra-nos que o Povo está dividido: uns pró Governo e outros contra o Governo. Quando o Povo está dividido, escusado é dizer-vos que não existem razões nem condições para exaltações de uma revolução popular. A razão é simples: um dos princípios da democracia é a pluralidade de opiniões entre o Povo. Contudo, nas democracias africanas este princípio parece estar a perder o seu valor semântico. A pluralidade de opiniões parece estar a gerar conflitos, como é o caso do Egipto. Ora, nesta ordem de ideias, apelidar os acontecimentos do Egipto como uma revolução popular parece, a priori, paradoxo. Na minha modéstia opinião, uma revolução popular deve caracterizar-se por uma sublevação total, onde o Povo se opõe consensualmente ao Estado a fim de subverter a situação política. Aqui, importa dizer que a subversão passa necessariamente pela retirada, seja a que preço for, do Poder ao estado. Esta, sim, é a revolução popular.
Seria eu ingénuo se me acomodasse neste pressuposto teórico da democracia. O poder é desejado! Os políticos têm sede pelo Poder! Todos querem chegar ao Poder! E o que é que está a acontecer? Os apoiantes dos partidos não governantes (Oposição) estão fartos de ver as mesmas caras a governar, o que impede os seus partidos de chegar ao poder. Exige-se mudança! Faz-se rebeliões! Faz-se revolução! Isto pode também ser dito de uma forma diferente: a Oposição e os seus apoiantes sentem-se impotentes de chegar ao poder por vias legais, isto é, através do voto. Assim, a única solução é inventar revoluções para mudanças forçadas.
Então, pergunto: será justo ceder a pressões dos oposicionistas, abdicando do poder, concedido pela maioria do Povo, entregando-o aos ávidos incompetentes minoritários?
Não me parece ser justo e não é a solução sequer!
O que a gente não sabe é o que está na base da fomentação destas pseudo-revoluções. É um erro falar em revoluções populares, pois, por mais que finjamos, incutindo responsabilidades ao Povo, este, para mim, é inocente. Existem responsáveis. Os responsáveis destas cenas tristes que temos vindo a assistir nos últimos dias estão ocultos, escondendo-se atrás do Povo. Esta é a postura covardia de gente incompetente que para atingir os seus fins não vê meios.
A História lembra-nos da situação conflituosa nos países que referi acima. Estes são países conhecidos como teatros de vários conflitos armados ou de outras manifestações de terrorismo. Aliás, o terrorismo é factor comum em todos estes países, chegando mesmo a emperrar o normal funcionamento das instituições de Estado na maior parte destes. Ora, que certezas temos nós para não pensarmos numa acção deliberada e organizada do terrorismo? Estaria eu enganado se afirmasse que estamos perante uma revolução do terrorismo?
No burgo, a analogia encaixa-se na perfeição: temos um partido que governa o país desde a independência; temos partidos políticos (Oposição) que nunca governaram o país desde a independência; temos, por um lado, Povo entusiasmado a ver o seu partido a governar eternamente, e por outro lado, temos Povo expectante com os seus partidos na governação. É a sede pelo poder! E como se não bastasse, temos um presidente há mais de 30 anos no poder. Esta situação induz-me a seguinte inferência: os alaridos que se fazem sentir entre nós, não serão mais do que a expressão de quem está ávido de governar e que não vê estes intentos a sua mercê, pelo menos a curto prazo; os ruídos que se ouvem entre nós demonstram o sentido de oportunidade exacerbado daqueles que querem esconder a sua incompetência política atrás do Povo, procurando consolo na desgastada imagem e debilidades do Governo.
Quero terminar, mas não antes de reforçar que a sede pelo poder pode ser contida, com a esperança de que o dia chegará, mas para tal não bastam intenções e nem sequer é preciso incitamentos a violência. As revoluções não são, necessariamente, pressupostos sustentadores da democracia que se pretende representativa. A sucessão no poder, em qualquer Estado, é factor fundamental para o desenvolvimento democrático. O poder em Angola deve ser alternado para o bem da democracia, porém, isto não depende de mim nem do caro leitor. É o Povo quem determina. E a falar do Povo, cá entre nós, tudo quanto se sabe, este está dividido em 80% pró Governo e 20% pró Oposição. Neste momento, uma revolução da minoria contra a maioria, se não é ironia ou anedota, é, na minha opinião, um atentado à democracia.
Saudações!
Dr.Xis
Angola24horas.com

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