quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Onda de revolta chega à Líbia e Iraque e ganha força no Irã, Iêmen e Bahrein

man egito 70DUBAI - Os protestos que sacodem o mundo muçulmano desde as revoltas na Tunísia e Egito chegaram à Líbia e aumentaram as tensões nesta quarta-feira no Irã, Bahrein e Iêmen. Nesta quarta-feira foram registradas manifestações também no Iraque.
Líbia passou a noite em tumultos e tem manifestação amanhã
A Líbia viveu esta noite graves tumultos com centenas de pessoas em confronto com a polícia e apoiantes do regime de Muammar Khadafi na cidade de Benghazi, depois da prisão de um advogado conhecido com crítico férreo do governo.
Apesar de as autoridades terem entretanto libertado Fathi Terbil – que representa as famílias dos prisioneiros alegadamente massacrados pelas forças de segurança líbias na prisão de Abu Slim em 1996 – os protestos continuaram por toda a noite.
O director do hospital Al-Jala, de Benghazi, disse à AFP que nos confrontos ficaram feridas 38 pessoas. Anteriormente, o jornal privado "Qurnya" relatava na sua edição online a ocorrência de 14 feridos, dez deles polícias.
Testemunhos colhidos pelas agências noticiosas registam que umas duas mil pessoas estiveram envolvidas neste protesto, um incidente raríssimo na Líbia, que ecoam os movimentos pró-democracia que estão a espalhar-se ao longo desta última semana pelos países árabes, tendo levado já à capitulação dos regimes autoritários de décadas na Tunísia e Egipto.
Nos tumultos de ontem à noite, os manifestantes atiraram pedras e coktails molotov contra a polícia que respondeu com canhões de água, gás lacrimogéneo e balas de borracha. Está a ser convocada uma manifestação na capital líbia, Trípoli, para amanhã.
A televisão estatal líbia reporta que por todo o país houve manifestações de apoio a Khadafi, o qual governa o país – importante exportador de petróleo – há mais de 40 anos.
Benghazi é um núcleo raro no país de antagonismo a Khadafi, onde muita da população não apoiou a ascensão ao poder no líder líbio no golpe militar de 1969. Desde então a região tem sido mantida fora da distribuição de riqueza obtida pelo país com os lucros do petróleo, o que aprofundou o descontentamento.
Libertação de prisioneiros
Já esta manhã, foi anunciado que as autoridades líbias vão libertar 110 pessoas presas por pertencerem a uma organização islâmica banida no país. Estes prisioneiros são os últimos do grupo ainda mantidos em detenção em Abu Salim, precisou o director da organização de defesa dos direitos humanos líbia, Mohamed Ternish, o qual fez o anúncio da iminente libertação.
Centenas de outras pessoas supostamente envolvidas com o Grupo Islâmico Líbia tinham sido libertadas no ano passado, após a organização ter renunciado à violência. A maior parte destes prisioneiros são oriundos de Benghazi, região à qual a maioria regressou após a libertação.
No Iêmen, várias pessoas foram feridas durante um protesto. Em Sanaa, a capital, milhares de estudantes e advogados gritaram "Depois de Mubarak, Ali", em referência ao presidente Ali Abdullah Saleh, que está no poder há 32 anos. Os manifestantes tentaram chegar à praça Tahrir (Libertação), que tem o mesmo nome da praça do Cairo que foi epicentro da revolução, mas as forças de segurança impediram o avanço.
Centenas de partidários do partido Congresso Popular Geral (CPG, no poder) atacaram os manifestantes com cassetetes, facas e pedras. Alguns manifestantes sofreram ferimentos leves. O correspondente da BBC em árabe Albdullah Ghorab, com o rosto coberto de sangue, afirmou à AFP que foi agredido por homens do partido governista. A manifestação foi organizada por estudantes e integrantes da sociedade civil. A oposição parlamentar, que decidiu retomar o diálogo com o regime, não participou.
Em Taez, ao sul da capital, milhares de pessoas também pediram mudança de regime e oito pessoas foram feridas na dispersão.
No Irã, a oposição reformista conseguiu organizar na segunda-feira a primeira manifestação contra o governo em um ano em Teerã, apesar das advertências das autoridades, que proibiram qualquer protesto e mobilizaram amplamente as forças de segurança. Alguns manifestantes gritaram frases como "morte ao ditador" e manifestaram apoio ao líder opositor Mir Hossein Mousavi, segundo sites ligados à oposição.
Incidentes foram registrados em várias áreas da capital iraniana entre manifestantes e as forças de segurança, que usaram gás lacrimogêneo. De acordo com o site Kaleme.com, de Mousavi, centenas de pessoas teriam sido detidas.
No Bahrein, apesar da proibição, centenas de pessoas protestaram em localidades xiitas e confrontos também foram registrados. Um homem foi ferido em Nuidrat, segundo o governo. As forças de segurança foram mobilizadas nos principais acessos à capital, Manama, para impedir uma passeata convocada por internautas.
O Iraque também viveu nesta quarta-feira o dia mais violento desde o início dos protestos há duas semanas, com a morte de um jovem manifestante ao sul de Bagdá. A multidão, enfurecida, incendiou edifícios públicos em protesto contra a ausência de serviços públicos.
Na Argélia, onde uma passeata proibida pelo governo enfrentou em 12 de fevereiro um grande dispositivo de segurança, uma nova manifestação está prevista para o próximo sábado.
UE pede à Líbia liberdade de expressão e o não uso da violência
A União Europeia (UE) pediu nesta quarta-feira à Líbia que permita a "livre expressão" e evite o uso da violência contra os manifestantes, depois da repressão dos protestos de terça-feira na cidade de Benghazi.
"Pedimos às autoridades que escutem a população que participa dos protestos e o que diz a sociedade civil", disse Maja Kocijancic, porta-voz da chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton.
Também pediu ao Governo de Trípoli que "permita a livre expressão" de seus cidadãos.
"Fazemos também uma chamada à calma e que se evite qualquer tipo de violência", concluiu a porta-voz comunitária.
Segundo as autoridades, os incidentes da noite passada em Benghazi deixaram 14 feridos.
Está convocada para quinta-feira outra manifestação contra o regime de Muammar Kadafi, que se somará às que também ocorrem em Irã, Iêmen e Bahrein.
Os incidentes de Benghazi começaram quando forças policiais dispersaram pela força centenas de manifestantes que reivindicavam diante de uma delegacia a libertação de um militante de direitos humanos detido na cidade, informaram nesta quarta-feira meios de comunicação privados locais.
AFP

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