quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Portugal apoiou MPLA após descolonização e ignorou uma guerra civil que vinha desde 1962

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carlos pachecoO historiador luso-angolano Carlos Pacheco militava no MPLA aquando do processo de descolonização de Angola e mantém, décadas passadas, que esta foi feita de forma parcializada, com apoio de Portugal aquele movimento, e ignorando uma guerra civil que já existia.
"A descolonização foi apressada, parcializada, feita com apoios dados a uma das partes, a um dos atores que foi o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola)", afirma Carlos Pacheco, em entrevista à Agência Lusa.
Esse apoio era evidente, tanto por parte do poder político, como "das chefias militares", garante o historiador, recordando que "nessa altura militava no MPLA e esse apoio era patente e teve consequências gravosas".
Para sustentar esta tese, cita uma frase que Marcelo Caetano, o último presidente do Conselho do Estado Novo, terá dito, confrontado com a eventual necessidade de encontrar uma formula para começar a negociar com os movimentos de libertação, dizendo "não com o FNLA, não com a UNITA, só com o MPLA".
Carlos Pacheco sustenta que "Portugal foi entregando, foi entregando tudo ao MPLA, que ficou senhor total da capital quando Angola estava ainda sob a soberania portuguesa" e que se "cometiam desmandos, coisas execráveis, nefandas, ainda em 1974, perante o olhar cúmplice das autoridades portuguesas, ainda no tempo do Rosa Coutinho e do seu ajudante de ordens, Emílio da Silva".
A esta censura, o historiador acrescenta a de que "Portugal ignorou que as três forças políticas já vinham fazendo guerra entre si".
Desde 1961 a FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola) e o MPLA e depois a UNITA, que aparece mais tarde, em 1966, enfrentavam-se, "havia uma guerra dentro da guerra", advoga Carlos Pacheco.
Quando se assinalam os 50 anos do início da guerra colonial, Carlos Pacheco defende, por isso, que "a guerra civil em Angola que irrompe em novembro de 1975, embrionariamente estava instalada e Portugal sabia disso. Basta consultar os documentos da PIDE, está lá tudo".
O historiador considera que "havia três guerras" porque "os chamados movimentos de libertação tinham as armas voltadas contra a máquina de guerra portuguesa mas também uns contra os outros e havia ainda a guerra dentro dos movimentos".
Para ilustrar, refere relatórios, cartas, "informações dadas pelas chefias militares" que mostram que "quem ousasse sequer manifestar uma discordância para com as políticas autoritárias de Agostinho Neto (dirigente do MPLA), de Jonas Savimbi (UNITA) ou de Holden Roberto (UPA/FNLA) desaparecia".
Sobre a atualidade e os atrasos de desenvolvimento de Angola, Carlos Pacheco acusa "os burocratas do regime que até à pouco tempo atribuíam responsabilidade ao colonizador" e afirma que "hoje, a responsabilidade já não é do colonizador".
A responsabilidade de Portugal, sustenta, é que não construiu elites culturais e empresariais e por isso "o pais não acede à independência com estruturas, com elites formadas", mas "deixou coisas boas, muito boas infraestruturas, por exemplo, e aqueles senhores foram-se encarregando de destruir tudo".
O historiador luso-angolano, autor de vários estudos publicados sobre os primórdios da luta armada em Angola e sobre o processo pós-colonial, prepara agora um novo livro, sobre Agostinho Neto, em que traça "o perfil de um ditador" e faz uma análise "das entranhas do MPLA".
O historiador luso-angolano Carlos Pacheco autor do livro Angola, um gigante com pés de barro.
LUSA

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